«Creio para compreender e compreendo para crer melhor» (Santo Agostinho, Sermão 43, 7, 9) (Santo Agostinho, Sermão 43, 7, 9)

27
Set 09
Caiu uma águia-real. A tempestade daquela tarde fez com que este imponente animal caísse num enorme lamaçal. Ali estava ela. Uma cabeça majestosa, umas plumas brilhantes e uma envergadura de asas de quase três metros. Ali estava ela no meio da lama, aturdida e em estado de choque. Um rapaz, com o desejo de possuir tamanha riqueza, atou à pata da águia uma corda e a outra ponta a uma árvore que estava por perto.
 
Quando a águia despertou, abriu as asas com solenidade, olhou para o céu de frente e começou a voar. No entanto, atada como estava, caiu de novo na lama. Voltou a olhar para cima e vislumbrou umas simples pombas a deslizar pelo céu. Com novo ânimo e força redobrada, tentou outra vez, e outra vez caiu no lodaçal. Cinco, dez, vinte vezes voltou a tentar e cinco, dez, vinte vezes voltou a cair. Por fim, desanimada diante de tanto esforço inútil, resignou-se a esperar pela morte atada à árvore.
 
Mas diz-nos a história que com a última tentativa de chegar até às nuvens, a corda tinha cedido devido ao desgaste. A águia-real estava livre. Se tivesse tentado mais uma vez, nada a impediria de voar pelas alturas. Mas ali ficou, no meio da lama, porque já não acreditava que fosse possível.
 
É um velho conto que se torna realidade todos os dias. O único verdadeiro fracasso na nossa vida é desistir. Desanimar, cruzar os braços e convencer-nos de que o esforço por ser melhores é e será sempre inútil. Não é verdade. Nós temos capacidades que não imaginamos. Somos chamados a voar alto, muito alto, mesmo que muitas vezes nos contentemos com rastejar pelo chão e ir andando na nossa vida.
 
Somos livres. Isso significa, entre outras coisas, que somos aquilo que desejamos ser. Configuramos a nossa personalidade com as nossas acções livremente escolhidas. A partir do momento em que chegamos ao uso da razão, tornamo-nos pouco a pouco pais e mães de nós próprios. Os outros podem aconselhar-nos, indicar-nos o bom caminho, mas no final somos sempre nós que escolhemos, que temos a última palavra. E é com base nessas escolhas que construímos ou não o nosso carácter.
 
Quantas vezes esquecemo-nos da dimensão imanente do nosso actuar. Quando escolhemos, bem ou mal, o mais importante não é aquilo que se produz fora, mas sim o que se constrói ou destrói dentro de nós. Por isso, não devemos actuar somente para fazer o bem, mas sim para ser bons. Uma acção livre é, antes de tudo, uma decisão da vontade, uma decisão interior. A luta entre o bem e o mal não acontece no exterior, mas dentro do nosso coração.
 
Vítor Frankl dizia que o homem, porque é verdadeiramente livre, é causa de si mesmo. É o ser que sempre decide aquilo que é. É o ser que inventou a música de câmara. Mas também é o ser que inventou a câmara de gás. E também é o ser que caminhou para ela, de cabeça erguida, com passo firme, rezando o Pai-nosso.

 
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
publicado por spedeus às 00:01

«Dá "toda" a glória a Deus. - "Espreme" com a tua vontade, ajudado pela graça, cada uma das tuas acções, para que nelas não fique nada que cheire a humana soberba, a complacência do teu "eu".» São Josemaría Escrivá – Caminho, 784 O ‘Spe Deus’ tem evidentemente um autor que normalmente assina JPR e que caso se justifique poderá assinar com o seu nome próprio, mas como o verdadeiramente importante é Deus na sua forma Trinitária, a Virgem Santíssima, a Igreja Católica e os seus ensinamentos, optou-se pela discrição.
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